ENQUADRAMENTO

BAIRRO 2 DE MAIO

O Bairro 2 de Maio, situado na freguesia da Ajuda, é um território marcado por diversos riscos, destacando-se a desocupação (47,9%), os baixos rendimentos (46,7% dos agregados auferem menos de 500€ mês), o isolamento do território (72,8% identificam problemas de acessibilidades) e a insegurança (77,7%). O Agrupamento de Escolas Francisco de Arruda, que recebe a maioria das crianças e jovens deste bairro, identifica no seu diagnóstico que, dos 1213 alunos inscritos no Agrupamento, 808 beneficiaram de ASE (Apoio Social Educativo), a que corresponde uma taxa cerca de 67% da população. A escola identifica ainda os seguintes pontos: a existência na área de diversas minorias étnicas; uma ausência de ambiente familiar estruturante, a desvalorização escolar por parte da família e a falta de expectativas no future. A leitura destes desafios multidimensionais e complexos pode parecer uma muralha intransponível, o diagnóstico participativo efetuado com os parceiros locais, aos quais se juntam informalmente a Gebalis, a Aventura Social - FMH e a Paróquia local, identificou também um conjunto de oportunidades: o património local, a ligação ao rio, o interesse pela área da marcenaria, o interesse pelo negócio e pela transição para a vida ativa e, ainda, o polo universitário que envolve o bairro, rodeado por universidades disponíveis para colaborar.

BAIRRO DO CASALINHO DA AJUDA

O Bairro do Casalinho da Ajuda é um bairro social de Lisboa, criado nos anos 60, que se situa na freguesia da Ajuda, mesmo na orla do Parque Florestal de Monsanto e muito perto do Palácio da Ajuda, da Tapada da Ajuda e do Polo Universitário do Alto da Ajuda, onde se encontram as faculdades de Arquitetura, Medicina Veterinária e o Instituto de Ciências Sociais e Políticas. O Casalinho da Ajuda nasce no final do período da Monarquia Portuguesa, com as primeiras edificações mesmo junto da Tapada e até à primeira metade do século XX era a isso que se resumia, um pequeno aglomerado de casas rodeadas de terras de cultivo bastante extensas e de mata, muito tranquilo e quase rural. Só em 1960 é que se dão as grandes alterações, com o início das obras da primeira travessia sobre o rio Tejo. A construção da ponte com as suas infraestruturas, estradas de acesso e viadutos, obrigam ao realojamento de várias famílias que viviam na zona de Alcântara. Sob a orientação do município, instalam-se numas barracas provisórias feitas de madeira que tinham sido construídas para o efeito no Casalinho da Ajuda. A verdade é que as famílias permanecem nessas barracas até 1970, data em que finalmente o projeto dos lotes de casas finaliza e as chaves lhes são entregues. Eram as casas para pobres do Bairro do Casalinho da Ajuda, criado no seguimento da política de urbanismo social do Estado Novo, ainda sob a governação de Salazar.

Em 1997 dá-se uma segunda fase de realojamentos no bairro, de moradores do Bairro Branca Lucas, quase todos eles oriundos dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), com quem Portugal nessa altura estabelece alguns protocolos de emigração. Com um nível socioeconómico muito baixo, o bairro começa a sentir a falta de estruturas existentes para a quantidade de famílias a habitar o mesmo espaço. Uma vez mais não existem programas que facilitem a mudança de morada. Sem vínculos ao local, há um desmembrar que se acumula aos problemas económicos já existentes. Os problemas do bairro agravam-se com a terceira fase de realojamento, que ocorre no início de 2002, de famílias da comunidade cigana até ali a viver nos alojamentos precários do Bairro 2 de Maio, também na Ajuda. É essencialmente da não existência de um planeamento de realojamento eficiente, que preveja as diversidades culturais, a falta de estruturas existentes, o desenraizamento e as dificuldades económicas, que o Bairro do Casalinho da Ajuda sofre em problemas que revertem num desleixo, em comportamentos de criminalidade, numa população juvenil que não prossegue os estudos, etc. Com cerca de 2000 habitantes alojados em 41 lotes de 576 fogos, o Casalinho da Ajuda é no atual momento um bairro estigmatizado, posto à margem, com um índice importante de criminalidade dentro da própria população. Foi, portanto, avaliado pelo Município como sendo um Bairro de Intervenção Prioritária, e por isso mesmo, com a possibilidade de atribuição de algumas ajudas para projetos inovadores que contribuam para o seu bom desenvolvimento.

O Bairro está a cargo da Gebalis, empresa responsável pela Gestão dos Bairros Municipais de Lisboa. Os moradores queixam-se igualmente da falta de infraestruturas, de arruamentos, de organização dos espaços públicos, da precariedade das casas, do mau funcionamento do saneamento básico.

A IDEIA, OS SEUS PROMOTORES E PARCEIROS

A Associação Entremundos, sedeada no Bairro do Armador em Lisboa – também ele considerado um bairro de Intervenção Prioritária -, tem como fim a promoção da inovação social através de novas soluções que visem a inclusão e o desenvolvimento social sustentado, a qualidade de vida e a participação cívica e comunitária, sempre tendo em vista a capacitação das comunidades. O projeto Ameias surge no seguimento de outras experiências de empreendedorismo que visam aproveitar a experiência de vida, criando negócios sustentáveis. Neste caso específico pretendeu-se também conciliar oportunidade e recursos, ou seja, a existência de um mercado de construção de embarcações, a disponibilidade de mão de obra qualificada e a existência de infraestruturas e saber. Tendo a experiência de vários outros projetos e no âmbito do programa BIP/ZIP, lançado pela Câmara de Lisboa para ajudar os bairros e as zonas da cidade com necessidades prementes de intervenção, a Associação Entremundos candidatou-se a um dos incentivos dos BIP/ZIP para atuar no Bairro do Casalinho da Ajuda e no Bairro 2 de Maio. A ideia visa essencialmente as camadas mais jovens, a pensar nas perspectivas de futuro dos mais novos que habitam um bairro cheio de desigualdades. Muitos deles com percursos escolares errantes, vivem em situações precárias, num meio social de grande índice criminal, e onde a desocupação pode ser um problema e um incentivo a comportamentos errantes. Numa tentativa de promover a integração escolar e profissional dos jovens, a Associação Entremundos cria o projeto Ameias, com a orientação e coordenação de Pedro Calado e Sofia Proença.

Image

Tem como um dos parceiros fundamentais a Escola de Ensino Básico do 2º e 3º ciclos Francisco da Arruda, sob a orientação e avaliação de alguns professores envolvidos e comprometidos a dar seguimentos a projetos desta natureza. O projeto tem como objectivo promover a integração escolar e profissional de 100 jovens, assinalados pela entidade escolar, através de três ações experimentais no âmbito das tutorias, ensino experimental das ciências marítimas e da criação de um negocio social. Outro dos parceiros, o Náutico Clube da Boa Esperança, envolveu-se no sentido de orientar e formar os jovens nas ciências náuticas, porque o Tejo está ali tão perto. A Faculdade de Motricidade Humana entra também ao nível de uma das ações, numa parceria ligada às tutorias dos mais novos. A paróquia local cede também o espaço, no bairro do Casalinho da Ajuda, necessário para criar uma pequena oficina de trabalho para o negocio social. Com o incentivo financeiro do programa BIP/ZIP, o projeto dá início a 1 de Julho de 2013

AS ACÇÕES

TUTORIAS PARA O SUCESSO

Baseado na metodologia de tutorias entre jovens e voluntários da Faculdade de Motricidade Humana, procurou-se criar modelos de referencia positiva entre os jovens, criando relações de proximidade e o coaching individualizado entre 30 tutores e 30 tutorandos, crianças moradoras nos bairros do Casalinho da Ajuda e 2 de Maio que frequentem a escola do 5º ao 9º ano de ensino. Neste sentido, decorrem semanalmente encontros presenciais entre os tutores e os tutorandos. Estes encontros servem para a orientação nos estudos, conversas sobre problemas que possam surgir e atividades que possam promover a autoestima e a valorização de aspectos de cidadania e pessoais. Mensalmente serão lançados desafios coletivos, que podem envolver os familiares das crianças – visitas de estudo, participação em eventos, etc.). O objetivo desta ação é também melhorar os comportamentos das crianças tidas em contexto escolar e comunitário e a demonstração efetiva da frequência e sucesso escolares. Para além dos voluntários da Faculdade, conta-se com a participação de um formador em coaching e tutorias e um coordenador da ação a tempo parcial.

Image

ENSINO EXPERIMENTAL

Aqui foram escolhidos grupos específicos de alunos selecionados pela escola que viessem ao encontro dos critérios escolhidos para as crianças que beneficiariam desta ação, e um grupo de jovens e jovens adultos dos bairros de intervenção. A ideia é tentar ultrapassar as dificuldades de aprendizagem com o apoio do ensino experimental das ciências e da matemática, nomeadamente através das ciências náuticas, com aulas de vela, construção de modelos de embarcações a partir de materiais reciclados e a sua manipulação no rio Tejo, ali tão perto. A partir destas experiências e em estreita articulação com os curricula formais, serão construídos percursos formativos diferenciados e adaptados aos interesses diversificados de cada um dos jovens para as seguintes áreas: velejadores, marinheiros, guias turísticos. As ações tomam lugar na sede do Náutico Clube Boa Esperança, no Cais do Sodré e conta com a ajuda de dois formadores e um coordenador a tempo parcial. Estas atividades são organizadas semanalmente.

OFICINA DE CONSTRUÇÃO NAVAL

Foram encontrados interesses específicos nas áreas da carpintaria, marcenaria e negócio, por parte dos jovens dos bairros Casalinho da Ajuda e 2 de Maio. Esse interesse, nesta ação, será alvo de um processo de formação em exercício que permitirá a construção de embarcações de madeira (embora esteja prevista a eventual utilização também em fibra de vidro), que serão depois comercializados no mercado. Estes pequenos barcos, que dão pelo nome de Firebugs, são construídos numa pequena oficina do bairro, um espaço cedido pela paróquia e que dispõe, inclusivamente, de mesas de marcenaria. A ideia é tornar esta atividade num negocio social local, mobilizando para já 10 moradores, entre os 16 e os 50 anos. Pretende-se contudo mobilizar futuramente mais moradores, com as aptidões necessárias. Esta formação é dada e orientada por um engenheiro naval do Náutico Clube Boa Esperança, dois dias por semana, que ajudará também a fornecer os primeiros contatos para venda das embarcações. Da venda das primeiras embarcações, 75% será atribuído aos formandos, como incentivo à continuação do negócio. O resto do dinheiro será para a compra de mais material para novas embarcações. Após o teste de ação, os parceiros poderão dar continuidade ao projeto criando uma cooperativa jovem para a sua gestão autónoma. Alguns dos jovens mais motivados poderão integrar a estrutura de ações regulares do NCBE, prevendo-se igualmente a construção de outros recursos que possam ser comercializados.

Image

CONTATOS

PROMOTORES

Associação Entremundos mailto:ameias.bipzip@gmail.com mailto:associação.entremundos@facebook.com

PARCEIROS

Escola EB 2,3 Francisco da Arruda Calçada da Tapada, 152, 1349-048 Lisboa 213 616 480 mailto:cefarruda@mail.telepac.pt

Náutico Clube Boa Esperança

Rua cais do Gás, Armazém Municipal nº1, 1249-145 Lisboa 919 834 390 211 929 778 mailto:contacto@ncbe.pt

PARCEIROS INFORMAIS

Faculdade de Motricidade Humana Estrada da Costa 1499-002 Lisboa 214 149 100 www.fmh.utl.pt

Paróquia da Ajuda GEBALIS (Gestão dos bairros Municipais de Lisboa)

PARCEIROS FINANCEIROS

Câmara Municipal de Lisboa, Programa BIP/ZIP, para Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária de Lisbon